No último dia 15 de março, o prêmio Pritzker, o mais importante da arquitetura no mundo, foi entregue ao arquiteto Diébédo Francis Kéré, sendo a primeira pessoa negra a receber a distinção. Esse ano o prêmio não apenas se destacou por contemplar um arquiteto negro, mas também por valorizar um profissional que tem o seu ofício pautado em projetos que trazem qualidade de vida para diversos grupos e comunidades em vários países da África e sua extrema preocupação com a sustentabilidade.
Nascido em Burquina Fasso na África Ocidental e radicado na Alemanha, Diébédo Francis Kéré tem 56 anos e ganhou notoriedade projetando escolas, espaços públicos, centros de saúde e habitações, sempre se preocupando com o bem-estar e o desenvolvimento do indivíduo usuário de seus projetos. “A arquitetura é primeiramente um serviço para a humanidade. É criar um ambiente onde o ser humano pode desenvolver a si mesmo, ser feliz. A minha filosofia é dizer que todo mundo merece uma vida com qualidade”, comenta o arquiteto em vídeo para o site oficial do prêmio.
Em suas obras, Diébédo sempre valoriza os materiais locais, em sintonia com o clima e as necessidades das comunidades contempladas com os projetos. Muitos deles são executados em regiões de escassez extrema, como Benin, Burquina Fasso, Mali, Togo, Quênia, Moçambique e Sudão, e por isso o arquiteto procura não só se preocupar com o espaço pronto, mas como todo o processo e como ele vai interferir na vida dessas pessoas.
Quando criança, Diébédo Francis Kéré foi o primeiro da sua família a ir para a escola, onde tinha aulas em salas sem ventilação. Isso o marcou e até hoje é uma preocupação natural. “Quando vou projetar um edifício onde o clima é muito quente, sempre me pergunto: como aproveitar ao máximo a ventilação desse espaço sem precisar de uma climatização artificial? Quais são as alternativas do lugar? Olho em volta e procuro opções que promovam maior bem-estar e qualidade de vida àquelas pessoas”, exemplifica.
A experiência pessoal de Diébédo Francis Kéré com a educação reflete diretamente em seus projetos. Exemplos disso são as escolas primárias e secundárias que inspiraram a criação de diversas outras instituições como o Startup Lions Campus, em Turkana, no Quênia, uma escola de tecnologia da informação e comunicação, onde Diébédo usou torres empilhadas de pedra de pedreira local para o resfriamento natural dos espaços que abrigam os equipamentos, minimizando o uso de ar condicionado. O Instituto de Tecnologia de Burkina, em Koudougou, Burkina Faso, foi projetado com paredes de argila de resfriamento, as quais foram trabalhadas in loco para acelerar o processo de produção. Os eucaliptos da região, com capacidade mínima de sombreamento e o empobrecimento do solo, foram reaproveitados para revestir os telhados de metal corrugado, protegendo o edifício das escassas chuvas que ocorrem no país. Ainda, essa água da chuva é coletada no subsolo para irrigar as plantações de manga que existem nas instalações do Instituto.
“Francis Keré empodera e transforma comunidades através do processo da arquitetura. Construindo instituições escolares contemporâneas, unidades de saúde, habitação profissional, edifícios cívicos e espaços públicos, muitas vezes em terrenos onde os recursos são frágeis e o companheirismo é vital, a expressão das suas obras ultrapassa o valor de um edifício em si”, diz Tom Pritzker, presidente do Hyatt Foundation, que patrocina a premiação, em seu comunicado oficial.
As obras monumentais homenageadas durante anos pelo júri do Pritzker cedem espaço para enaltecer a obra de Diébédo Francis Kéré, onde o monumental é a evolução do ser humano como indivíduo e como parte fundamental de uma comunidade. “Todos merecem qualidade, todos merecem luxo e todos merecem conforto. Estamos interligados e as preocupações com o clima, a democracia e a escassez são preocupações de todos nós.”
Fonte – https://www.pritzkerprize.com/