A pós-modernidade nos traz a mistura de elementos e conceitos que nunca pensamos que pudessem ser unidos: o subjetivo à inteligência artificial, o racional à arte performática, a tecnologia de ponta ao artesanal. Isso não se restringe a certos segmentos da sociedade, mas interfere diretamente em alguns, como é o caso da arquitetura.
Não só o estilo, mas também a forma de se fazer arquitetura mudou. Hoje temos diversos modelos de processos que facilitam o dia a dia nos escritórios, mas há os que modificam a forma de se criar projetos arquitetônicos, a fim de trazer soluções espaciais, econômicas e ambientais onde eles estão inseridos. É o caso da arquitetura paramétrica.
A arquitetura paramétrica se vale da tecnologia computacional e algoritmos para gerar novos desenhos, a partir de parâmetros pré-definidos. Ela possibilita a execução de formas extraordinárias, inéditas no universo da engenharia, fazendo uma ligação palpável entre o digital e a construção civil.
A partir de softwares específicos, o profissional de arquitetura alimenta o computador com dados de diferentes parâmetros importantes no desenvolvimento do projeto, como necessidades do usuário, localização do terreno, posição do sol sobre o terreno, materiais a serem utilizados, incidência de vento, entre outros. Todas essas informações são cruzadas e, a partir de algoritmos, criam-se parâmetros que permitem ao arquiteto desenhar projetos com mais possibilidades criativas e excelência na parte estrutural.
Essa revolução tecnológica e inteligente permite que projetos que nunca tinham saído da imaginação dos arquitetos pudessem tomar forma material, com toda a segurança necessária de execução e usabilidade. Além disso, ela reduz o tempo e o custo de desenvolvimento e realização dos projetos com maior complexidade, o que pode resultar em edificações mais ricas criativamente.
Portanto, a arquitetura paramétrica inverte a ordem: ela é o resultado de diferentes variáveis de dados inseridos, combinados através de algoritmos criados em um sistema digital.
Um dos primeiros edifícios que ficaram conhecidos mundialmente por terem sido criados a partir da arquitetura paramétrica foi o Tower Swiss Re, por Norman Foster. Localizado em Londres, Inglaterra, ele foi finalizado em 2004 e se tornou um dos símbolos da pós-modernidade em contraponto ao conservadorismo da capital inglesa.
Mas o projeto que vem mais rapidamente a cabeça quando se fala em arquitetura paramétrica é o Heydar Aliyev Center, localizado no Azerbaijão. Criado pela arquiteta Zaha Hadid e concluído em 2013, o prédio foi desenvolvido por meio de uma precisa análise entre as necessidades do projeto e a localização do terreno. Além disso, o desejo foi que a construção trouxesse elementos culturais do Azerbaijão traduzidos em suas formas. O resultado foi um edifício com curvas que remetem aos tapetes e tecidos do país, com espaços internos fluidos e integrados. Uma obra de arte inimaginável em décadas passadas.
Um exemplo de arquitetura paramétrica que ultrapassa as fronteiras da funcionalidade e beira o artístico é o Metropol Parasol, em Sevilha, na Espanha. Desenhado pelo arquiteto alemão Jürgen Mayer-Hermann e finalizado em 2011, esse projeto-instalação é conhecido como “Os Cogumelos da Encarnación”, sendo uma das maiores estruturas de madeira do mundo. São seis guarda-sóis em formas de cogumelos inspirados na abóboda da Catedral de Sevilha e nos fícus da Praça de Burgos, ambos na mesma cidade. É a materialização do que a arquitetura paramétrica possibilita.
Um nome brasileiro que explora a arquitetura paramétrica em diferentes campos é o arquiteto Guto Requena. O profissional é conhecido por desenvolver projetos de arquitetura e design no universo paramétrico, trazendo soluções não apenas de melhorias em execução, mas uma preocupação ambiental como a geração mínima de resíduos, uso de biomateriais, entre outros. Além disso, Guto se atenta para uma conexão real entre a obra e o usuário, colocando o afeto e a experiência como prioridades em suas criações. É o uso de algoritmos e da tecnologia digital em prol de uma arquitetura mais humana.