Em junho de 2025, Copenhague se transformou em uma celebração provocadora do design contemporâneo durante o 3daysofdesign, evento que mais uma vez confirmou a capital dinamarquesa como referência de reflexões e experimentações criativas. Sob o tema “Keep It Real”, a edição deste ano foi marcada por um convite à autenticidade, propondo uma pausa no excesso de artifícios e uma reconexão com aquilo que é essencial, tangível e emocionalmente verdadeiro. O festival reuniu centenas de expositores de diferentes partes do mundo e espalhou suas instalações por diversos bairros da cidade, numa jornada urbana que cruzava territórios históricos e espaços industriais, misturando o artesanal ao conceitual, a herança ao futuro.
O mote escolhido, “Keep It Real”, longe de soar como um apelo simplista, orientou toda a curadoria do evento a buscar experiências que tocassem o visitante de forma direta e honesta, privilegiando o contato sensorial, o tempo da contemplação e a escuta ativa do processo criativo. Houve uma valorização evidente da matéria-prima: da madeira que carrega o gesto do marceneiro à cerâmica que preserva o calor das mãos, mas também das ideias que moldam a forma como interagimos com os objetos e com o ambiente. O design aqui não se limitou à função ou à estética; ele se posicionou como uma linguagem capaz de nos aproximar de nós mesmos e dos outros.
Essa abordagem se traduziu também na maneira como as peças foram apresentadas. Instalações se misturaram com intervenções urbanas, exposições se desdobraram em encontros e conversas, e a cidade deixou de ser cenário para se tornar parte integrante da experiência. Havia, em muitos estúdios e showrooms, a recusa do espetáculo, substituída por uma atmosfera quase doméstica, onde o visitante era convidado a tocar, a sentar, a sentir e, acima de tudo, a compreender. O papel do designer, nessa perspectiva, se expandiu para o de mediador de sentidos, alguém que não entrega apenas um produto final, mas compartilha um ponto de vista, uma inquietação.
A identidade visual da edição, concebida pelo artista sueco Andreas Samuelsson, reforçou essa proposta ao utilizar formas orgânicas e espaços em branco como metáforas para a interioridade e a abertura interpretativa. O cartaz sugere possibilidades: “a realidade é múltipla, e o real também é subjetivo”. Essa premissa norteou todo o 3daysofdesign, que se consolidou como um evento menos preocupado em ditar tendências e mais interessado em propor perguntas. O que é autêntico em um mundo onde tudo é passível de edição? O que permanece quando retiramos os filtros, as camadas, os ruídos?
Segundo a organização do festival, ao fim dos três dias, o que ficou foi a sensação de que o design contemporâneo, quando comprometido com o real, é capaz de restituir profundidade ao cotidiano. “Em um tempo marcado pela aceleração e pela superficialidade, o festival de Copenhague lembrou que há valor na pausam e força naquilo que é feito com propósito”. “Keep It Real” acabou sendo uma postura ética diante do fazer criativo. E, por isso mesmo, o 3daysofdesign de 2025 se reafirmou como uma plataforma relevante e humanizada no cenário do design internacional.