Do local ao universal: a narrativa humana da Arquitetura Vernacular

A arquitetura vernacular é uma expressão do lugar. Reflete tradições, culturas, climas e paisagens específicas, servindo como uma vitrine da herança cultural de uma região. Longe de ser apenas uma técnica arquitetônica, ela conta uma história profunda sobre quem somos e de onde viemos.

A palavra “vernacular” refere-se ao idioma ou dialeto falado por um grupo de pessoas em um lugar particular. Na arquitetura, refere-se às construções feitas por pessoas locais, utilizando materiais e recursos locais, muitas vezes sem a presença ou influência de arquitetos profissionais. É a arquitetura “do povo, para o povo”.

Essa abordagem construtiva pode ser rastreada por toda a história humana. Em cada canto do mundo, você encontrará exemplos dessa arquitetura, desde os Trulli na Itália até as casas de barro da África Ocidental. A arquitetura vernacular é um testemunho vivo da diversidade cultural do mundo. Ela representa uma adaptação do homem ao seu ambiente, incorporando práticas tradicionais e conhecimentos transmitidos de geração em geração.

Por exemplo, os Yurts da Mongólia são projetados para suportar ventos fortes e temperaturas extremas, enquanto as casas flutuantes dos lagos da Caxemira são uma resposta à vida aquática. Cada edifício vernacular é um reflexo direto das necessidades, valores e estilos de vida da comunidade que o criou.

Yurt, casa tradicional do povo da Mongólia.

Em um mundo que enfrenta desafios climáticos e ecológicos, a arquitetura vernacular oferece lições valiosas em sustentabilidade. Esses edifícios são frequentemente construídos com materiais locais e renováveis, como terra, pedra, madeira e palha, minimizando assim o impacto ambiental. Além disso, muitas dessas construções são naturalmente eficientes em termos energéticos, aproveitando o design passivo para resfriar ou aquecer os espaços internos, conforme necessário.

Casas Blackhouse na Escócia: tradicionais casas galesas feitas com paredes de pedra e tetos de palha ou turfa.
Casas de Taipa (Adobe): Comuns em muitas partes do mundo, incluindo o sul dos EUA, América Latina, África e partes da Ásia, essas casas são feitas de terra compactada ou tijolos de barro seco ao sol. São naturalmente isolantes e biodegradáveis.
Habitações Trogloditas: Estas são habitações escavadas em encostas ou rochas. Exemplos famosos incluem os complexos de cavernas em Matera, Itália, e os lares escavados na Capadócia, Turquia.

Ao longo da história, muitos têm se dedicado à pesquisa e prática da arquitetura vernacular. Hassan Fathy, um arquiteto egípcio, é amplamente reconhecido por seu trabalho em promover técnicas de construção vernacular, particularmente a construção com terra crua, como uma solução para a habitação de baixo custo. Quem também utiliza o mesmo material é Diebedo Francis Kere. Originário de Burkina Faso e ganhador do prêmio Pritzker de Arquitetura em 2022, Kere é conhecido por seus projetos sustentáveis e baseados na comunidade que incorporam técnicas vernaculares. Anna Heringer e Simón Vélez têm defendido o uso de técnicas e materiais vernaculares em seus projetos, demonstrando que a arquitetura vernacular pode ser contemporânea, relevante e esteticamente impactante.

New Baris Village, por Hassan Fathy. Foto: Viola Bertini
Serpentine Pavillion, por Diebedo Francis Kere, Londres.
Ceramic House, por Wang Shu. O arquiteto chinês vencedor do Pritzker é conhecido por incorporar técnicas vernaculares em seus projetos contemporâneos, utilizando materiais como telhas recicladas, cerâmica e bambu.
Kolumba Museum, por Peter Zumthor. O arquiteto suíço é conhecido por seus edifícios sensíveis e táteis, muitos dos quais incorporam técnicas e materiais vernaculares, como pedra e madeira.

Estes arquitetos, entre muitos outros, têm demonstrado que as técnicas e tradições vernaculares podem ser uma fonte rica de inspiração, permitindo a criação de arquitetura que é ao mesmo tempo moderna e enraizada em tradições locais.

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